terça-feira, junho 20, 2006

Devaneio ao Poeta e sua quase eternidade que insite

Cá estou eu... Bizarramente ouvindo canceriano sem lar, e realmente bebendo um café p/ fumar. Acho que todo canceriano tem dessas coisas, que os pais de bebês cancerianos saibam disso... bebemos muito de muitas coisas, inclusive café. E não seria estranho que fumássemos de muitas coisas, inclusive cigarros.
Mas enfim... volto ao assunto mais rodado de todas as épocas, do qual eu não escapo (outro fardo dos pobres cancerianos...), o Amor!
Ah, disse bem Nelson Rodrigues: é o ridículo da vida!... Depois que passa toda a tristeza lírica que embala feito trilha sonora aquele amorzinho doído de quem não tem quem quer (mesmo quem tem, nunca tem do jeito que quer...), que também não deixa de ser tremendamente patético, vem a loucura.
E é na fase fase da loucura que eu me encontro. Claro que quem vive seus amores não a conhece. Não é meu caso... não vivo nada. Vivo dentro de mim, o que não adianta. Aliás, nada adinata... Volumes de manuais de guerra milenares, anos jogando xadrez, e eu caio nos mesmo erros de sempre... Amor tem muito de guerra e de tabuleiro de xadrez. Caso você esqueça ou ignore a auto-proteção, voce se fode. Tem muito de futebol também... Subestimar o adversário é um erro mais corriqueiro do que parece. Bem que eu já devia estar caleijada dessas táticas... mas não me aguento. Me dão a mão e eu quero o braço... quero sempre mais e mais até do que eu posso aguentar. Felizmente saio ilesa, depois de escandalos homéricos e litros de lágrimas enxarcando trabesseiros, trago imaculados meus quase amores, em fila indiana por ordem, ora cronológica, ora de intensidade... No fundo, quando acaba, são todos "quase"... Uns viram amigos, outros revivais esporádicos e outros somem no mundo, resolvem amar outras pessoas... mas minha capacidade de achar gente sumida é espantosa... recolho as ovelhas desgarradas num único telefonema, em data bem distante do aniversário, para não encher muito a bola, e me satisfaço sabendo que não estou esquecida nem odiada. Mas são "quase"... e se isso não me dói, me magoa que não doa... Comédias romanticas acabam com a vida das mocinhas mais racionais... E agora não sou mais nenhuma mocinha. Tudo bem, ainda tenho um poster das Spice Girls na casa da vovó, mas não tem mais essa coisa de mandar recadinho e depois beijar atrás do colégio. Sinto-me muito velha, aliás, vendo fazer isso os que eram bebês horrendos quando eu já fazia! Preciso de um amor. Mesmo que não seja completo, absoluto e eterno, que seja pontual... Que me leve ao cinema de vez em quando. Não sou mais uma mocinha... e não quero gostar de quem não gosta de mim, porque isso eu faço desde a oitava série...
E, ora bolas... porque eu não desisto logo de você? Que saco isso de não enxergar novas possibilidades em novas pessoas... existem milhares delas, aqui mesmo, no Rio de Janeiro. E o que é que você tem que elas não vão ter nunca? Tudo bem, você é inteligente, do bem, fofo e escreve feito um demônio... E daí?
Mas eu não desisto. Já esqueci qualquer melancolia oriunda da tua aparição (e "desaparição"!!), mas restou uma lasca de qualquer coisa, que brota, mesmo que o terreno do coração já esteja tão árido quanto qualquer coisa mais árida do mundo. E inalgura-se a loucura. E eu escrevo coisas sem sentido e desfilo com um biquini que nuna foi a praia pela casa... E faço convites descarados, e o desespero brota pelos olhos... E você nada, porque é tão simples e você entende: milhares de pessoas, só aqui, no Rio de Janeiro... porque me querer?? O que eu tenho que elas nunca vão ter??
Mas eu não desisto, e nem fico triste. O cabelo escorre pelas costas tortas, amanhã completo 21 anos estranhamente vividos, o Chico César canta ali na T.V., o cinzeiro enche, o copo esvazia... e cadê você? O vento que entra pela janela passou por teus jardins? Não... e não desistir é o que irrita. Estou absolutamente irritada... e com frio, e sem saco pra terminar as coisas começadas e catando no ar qualquer idéia para o conto da Luzia. Eu não preciso de você, e ainda assim eu quero e quero e não desisto de querer...
Mete medo isso.
Mas eu tento ir... Se é para não desistir, que não desita lá fora, onde são mudos os leões alados e outras espécies estranhas que já existiam antes de você. E que fique onde esta seu vodu de cera... tudo que eu criei de verossímel. E as borboletas que vieram depois, que sejam eternas.


Um comentário:

NILO disse...

"Tudo esta na natureza, encadeado e em movimento, cuspe, veneno, tristeza, carne, moinho, lamento, ódio, dor, cebola, coentro, gordura, sangue, frieza, isso tudo esta no centro de uma mesma e estranha mesa, misture cada elemento, uma pitada de dor, uma colher de fermento, e uma gota de terror. O suco dos sentimentos raiva, medo ou desamor, produz novos condimentos, lágrima, pus e suor, mas inverta o seguimento, intensifique a mistura, temperódio, lagrimento, sandálho com tristezura, carmento fenemuinho, remexa tudo por dentro, passe tudo num moinho, moa carne, sengro coentro choro e enveneno e a gosdura, vc terá ungueto, uma baba grossa escura, essencia do meu tormento e molho de uma fritura de paladar violento que engolindo a criatura repara no meu sofrimento com a morte lenta e segura. Eles pensam que a maré vai mais nunca volta, até agora eles estavam comandando o meu destino e eu fui, fui, fui recuando, recolhendo fúrias, hoje eu sou onda solta e tão forte quanto eles me imaginam fraca, quando eles virem invertida a correnteza se eles resistem a surpresa e quero saber como eles reagem a ressaca!"

Parabéns meu amor... seja feliz!