segunda-feira, janeiro 19, 2009

Ao meu quase amor que escorrega que nem sabão.




Meu coração é uma almofadinha de retalhos, muito bonitinha e gasta, que me serve de conforto na solidão e de proteção contra as punhaladas. Meus amores todos usaram punhais.

Eu também.


Para morrer de amor é necessária a decência do pó de vidro, para matar de amor ou espantar o amor, usamos punhais.


Não posso dançar agora, estou ocupada. Estou a costurar remendos no meu coraçãozinho, sentada na beira da estrada: não te seguiria, nem se me convidasse. Tenho medo de você do estrago que pode causar.


Mas eu sei que tu não me convida coisa nenhuma e nem te agrada a idéia de esperar até que denovo eu enlouqueça. O tempo não me ensinou nada tão importante quanto à arte de detectar os pregrinos: vocês caminham em zig-zag e se movem por tudo que brilhe... e nada brilha muito tempo.


Além do mais, tudo mudou: antes eu despertava ao menor sinal de uma paixão, me declarava, me desesperava e acabava, quase sempre, aos frangalhos, esparramada num banheiro de luz fria com meia garrafa de conhaque e três maços amassados de cigarro, chorando até vomitar. Agora, ao menor sinal de uma paixão, eu bebo vodka: bebemos conhaque para lembrar e vodka para esquecer, isso é um fato.


De qualquer forma, te agradeço pela beleza e pela coragem que tu trouxe, sem querer e sem saber. Vá embora logo antes que eu te ame e sofra, antres que eu me arrependa de não ter tentado fazer você ficar e cantar no meu chuveiro, e volte sempre que sentir vontade, porque gosto de ver o tempo passar, às vezes.


Eu acho que vou ficar por aqui mesmo, pois a boemia me anestesia dos tropeços todos.


Estou muito surpresa por estar tranquila.


Um beijo eterno, pessoa mais bonita do mundo.


E.

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