quinta-feira, outubro 08, 2009

Nesses tempos estranhos ainda nos resta nosso mundinho, logo ali, no nosso umbigo. Lá não importa se vemos o que não é, se tratamos como se fosse o que não será. Não importa. Só aos santos, putos, loucos e, claro, aos sonhadores, é concedida a maravilhosa habilidade criativa de adorar abóboras, postes, meias, tábuas, fotografias e canções como se tudo fosse dotado de sentimentos...
Os outros?...
Bom...
Os outros são abóboras, postes, meias, tábuas e fotografias, que até entendem as canções, mas só as canções... Os outros acham feio o que não é espelho.
Os outros não sabem de nada e não nos dão paz com seu raciocínio lógico, suas calças pregueadas e seus relógios de corda, sempre repetindo, com as sombrancelhas arqueadas, que as coisas não são bem assim.
Os outros deveriam ser menos bobos. Deveriam saber que basta planejar uma coisa para que ela jamais aconteça. Deveriam saber que uma vida tem muitos gigas... infinitos gigas... Cabe muita coisa em uma vida, sem precisar apertar, sem atrapalhar.
Os outros são os ranzinzas do lado de fora do parquinho, resmungando sobre como é melhor não brincar do que arriscar o machucado.
Oo
Guardem, portanto, suas receitas de felicidade, sanidade e equilibrio para os outros que nascerem. Eu só serei alegre enquanto dedicar os poemas de Neruda rabiscados pelo meu corpo às abóboras maduras da minha vida.

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