sábado, setembro 30, 2006

"Nunca ninguém pareceu tão triste. Amarga e escura, a meio caminho das trevas, sob o feixe de luz que fugia do sol para encerrar-se nas profundezas, talvez uma lágrima se tenha formado; e uma lágrima caiu; as águas agitaram-se de um lado para o outro e receberam-na, depois acalmaram-se. Nunca ninguém pareceu tão triste."
Virgínia Woolf - Rumo ao Farol


Hoje despertei ao meio do dia, sob a benção de um frio chato feito dor dente, que entraria pelas anáguas, caso as vestisse... Acredito que pouca gente saiba o que é a tristeza, embora todos se julguem seus maiores doutores... Eu sei. E hoje acordei longe de qualquer esboço de sentimento... Encontro-me simplesmente reclusa num silêncio de tons rubros e trago uma rosa de feltro enfiada em cachos desgrenhados; os olhos mais abertos que tudo e um deserto, árido e frio, paradoxo, no coração.


sexta-feira, setembro 29, 2006

quarta-feira, setembro 13, 2006

Sobre os contos

E quem me diz o acontece agora?
Coroada com meu mundo de cachos foscos e senhora absoluta da minha própria solidão, calço os cacos de todos aqueles sonhos... Vinte e poucos anos de noites mal dormidas e dias oníricos ao som de baladinhas bregas, de todas as épocas em que simplesmente não existi.
A angústia das chuvas que já me desabaram, as tardes douradas pela espera, o frio suado na barriga, a descoberta, o encontro a espera... sempre a espera à espera. E chega sempre o nada, depois de abotoadas as anáguas... Quem é que empresta um isqueiro, um frasco, uma alegria qualquer, que seja passageira, por que é preciso continuar com os escritos...
E quem sabe o que acontece agora?
Camuflados os pecados no cheiro doce que devia lembrar o paraíso. Velhos conhecidos com suas novas roupagens, seus novos discursos, sua carga boa daquelas velhas ilusões.
E vão-se pássaros, esperas, flores dormidas em páginas de poesia relida... Velhos amores que surgem como promessas de algo bom...
E qualquer coisa que remeta àquele passado preguiçoso entre pés de ovelhas e taiobas, q que enquanto presente parecia tudo menos bom, gera paz, conforto de seio de mãe...
Mas no calcanhar do destino metálico o que se arrasta é uma menina, cada ano mais menina na sua falta do que pensar... queima seus olhos essa cidade imensa, de imensos membros de concreto gasto. E essa cidade grita rouca a qualquer hora, para que mesmo no temor da solidão, imprevista em meio a tantos olhos, todos a amem, precisando.
E se a menina se arrasta é porque ainda não entendeu o que todos os outros sabem que é preciso saber...
E as fadas bocudas e malemolentes que vagam por aí, com suas unhas imensas e seu gingado escandaloso, sempre hão de brotar no caminho... e sempre há quem lhe compre a alma... sempre há quem lhe prometa uma ilusão convincente por um pouco do seu tempo... e se não sou eu, nem ela, são outros... E todos na mesma massa... todos têm histórias, com fadas, medos, pecados e mentiras, e não há quem se admita culpado, porque não há quem o seja, completamente.